segunda-feira, 16 de fevereiro de 2009

Uma esperança interrompida!


Uma esperança interrompida!


Desde o assassinato do diretor da escola Centro de Ensino Lago Oeste, o educador Carlos Mota, no ano passado, todos nós ativistas dos direitos humanos, sejam educadores, estudantes, sindicalistas, advogados, gestores na área de segurança pública, entre tantos outros, acompanhamos reportagens pela imprensa falada e escrita sobre mais esse ato de violência urbana no Distrito Federal.

A minha pergunta é: O diretor Carlos Mota foi assassinado porque combatia o tráfico de drogas na escola ou porque era um diretor de escola pública do século XXI?

Lembro-me de ter lido uma matéria no Jornal Correio Braziliense, logo após o assassinato, na qual alguns estudantes, colegas professores e funcionários se referiam ao diretor Carlos Mota como pessoa legal, gentil, que dava bom dia para todos na escola, cuidava do ambiente, preocupava-se com os estudantes, os professores, os funcionários e etc.

Ou seja, ninguém fez referência a ele correndo atrás de traficantes, o que é correto. Porque esta é atribuição exclusiva das polícias, constitucionalmente e de fato. Elas são treinadas para isso, encontrar os fora da lei e entrega-los à justiça para serem julgados e, se for o caso, condena-los.

O diretor Carlos Mota foi eleito pela comunidade escolar para ser O DIRETOR, o Gestor de uma escola pública. Que privilégio!

Sua missão foi bruscamente interrompida por três jovens, um deles ex aluno da escola Centro de Ensino Lago Oeste, a mando de um traficante nas redondezas. Outra pergunta me vem à cabeça. Será que as polícias não sabiam que por ali rondava o perigo do tráfico de drogas?

O diretor Carlos Mota que, tendo conhecimento do perigo que aquela comunidade corria e corre (acho eu) com o tráfico na porta da escola da qual cuidava com carinho e respeito à nobre função que exercia não conhecia seus limites? Acho que não.

Inocentemente, confundiu os papeis, pagou caro, com a própria vida, pela nossa incapacidade – Estado, Trabalhadores de Segurança Pública e Sociedade Civil de exercitar, de forma estratégica, a cooperação para prevenir a criminalidade e construir comunidades mais pacíficas.

A Iª conferência Nacional de Segurança Pública abre o portal para o debate entre estes três setores.

Cada um com suas responsabilidades e limites. Em pé de igualdade, para podermos romper efetivamente o velho paradigma de que quem cuida da Segurança Pública são as polícias. Aos cidadãos, caberia apenas apoiar as atividades policiais. Aí pode estar a raiz do brutal assassinato do diretor Carlos Mota.

Se o exercício da cooperação, de forma estratégica, entre estes três atores fosse uma prática na prevenção da criminalidade, o tráfico não surgiria naquela comunidade e muito menos na escola, e não teria sido necessário mais um educador, e agora diretor de uma escola pública e humanista, pagar com a própria vida.

Somos todos responsáveis por mais essa perda. Os criminosos devem pagar pelo crime. E pagar caro, já que o sistema penitenciário é a barbárie.

Aos Gestores e trabalhadores de segurança pública fica mais uma lição, a de que é fundamental prevenir para não serem todos jogados na vala comum de que políciais e criminosos são a mesma coisa.

Para o cidadão fica o exemplo doloroso do diretor Carlos Mota de que é necessário exercitar nossa cidadania em todas as atividades que dizem respeito à melhoria da qualidade de vida na comunidade, da cultura, da educação, do meio ambiente, do lazer e a segurança pública com cidadania.

Deveríamos dedicar a etapa da Iª Conferência Nacional de Segurança no Distrito Federal a todos os educadores que perderam a vida pela educação para a paz.


Everardo de Aguiar Lopes Brasília 15 de fevereiro de 2009
Movimento Amigos da Paz
Rede Desarma Brasil - DF